Aposta no Turismo versus Desenvolvimento do Maio I

Já lá vão muitos anos em que se fala da aposta no turismo como condição principal para o desenvolvimento da ilha do Maio. As belas praias de areia branca, o mar ameno e de águas translúcidas, o sol luzente durante praticamente todo o ano, a hospitalidade, serenidade e morabeza do povo maense, enfim, uma série de condições naturais e humanas, que constituem um verdadeiro convite a passar umas ferias de sonho para quem procura paz, tranquilidade e um contacto mais próximo com a natureza.

Porém, não basta só ter todas estas condições para atrair a indústria do turismo. A mãe natureza coloca ao nosso dispor recursos e nós temos saber geri-los e criar condições para deles tirarmos um maior partido, e de forma sustentada.

Para o desenvolvimento da indústria do turismo há que, para além de dispor das condições acima mencionadas, criar condições para, primeiro atrair os investidores, operadores turísticos, e depois os turistas. Tudo isto, como é óbvio, tendo em atenção um bom acompanhamento desse processo por parte da população local, de forma que todos possam tirar dividendos, evitando assim problemas sociais.

No caso da ilha do Maio, é preciso propalar esta falsa ideia da aposta no turismo, ainda mais quando se aponta este como o principal motor para o desenvolvimento da ilha.

Há um conjunto de condições que são vitais para a atracção da indústria do turismo e que a ilha do Maio neste momento está de longe de as satisfazer.

São condições essenciais para a atracção da indústria do turismo, além de condições naturais, humanas, politicas e de estabilidade social, a acessibilidade, comodidade, a variedade e a segurança no que toca á integridade física, cuidados básicos de saúde e comunicabilidade.

Para começar, ilha do Maio tem estado nas bocas do mundo devido ao total isolamento a que tem sido sujeito de há muito tempo a esta parte. Recentemente remodelaram o aeródromo da ilha mas isto não resolveu o problema. O isolamento não só ao nível da circulação de pessoas, mas também no abastecimento de bens de primeira necessidade e materiais de construção. O porto do Maio não possui as mínimas condições para o transbordo nem de pessoas nem de cargas. Ademais, não basta investir em infra-estruturas sem ter equipamentos e meios de transporte.

Muito tem se falado em investimentos de milhões em unidades hoteleiras e outras infra-estruturas de apoio, mas com a escassez de matérias-primas (ferro e cimento) devido ao tal isolamento… temos que esperar sentados pela conclusão destas obras.

Um turista que chega á ilha do Maio numa segunda-feira dá um mergulho no “Bitchi Rotcha”, depois aluga um carro e dá uma volta pelas localidades da ilha e na terça ao faz mais do mesmo ou regressa á casa. Não há um roteiro turístico definido e nem guias turístico, o turista tem que “desenrascar”.

O novo hospital está em construção há já não sei quantos anos, os turistas, tal como toda a população, está entregue á sorte. Certamente todos se lembram do Dividim (que a sua descanse em paz), isto para não falar de outros casos. Aliás, em matéria de segurança noticia recentes já dão conta até de “Kaçubody” a alguns turistas.

Pode até não aparecer, mas eu acredito nas potencialidades turísticas de Djarmai e, acredito também que este é um dos principais impulsores do desenvolvimento da nossa querida terrinha. Mas temos que saber o que queremos para podermos planear os caminhos a seguir para atingir os nossos objectivos.

O discurso da aposta no turismo já dura há vários anos e só tem servido como desculpa para inviabilizar e desviar outros projectos (indústria cimenteira é um exemplo), adiando sine die o desenvolvimento da ilha.

Samir Agues da Cruz Silva