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terça-feira, 30 de março de 2010

Universidade Sénior Maense - Um projecto para a preservação da cultura maense

Há algum tempo o nosso colega e compatriota José Maria Duarte - Paixão di Maio - lançou um desafio aos jovens estudantes maenses, em particular aos colaboradores deste blogue, no sentido de lançarmos mãos à obra e apresentar propostas e projectos concretos com vista a contribuir para o desenvolvimento da ilha do Maio.

A proposta do José Maria visava ( e creio que ainda visa) recolher um conjunto de ideias, propostas, projectos e sugestões que depois seriam organizados e apresentados à Câmara Municipal e à Assembleia Municipal do Maio. Confesso que desde então já rabisquei muita coisa, sobre várias áreas mas nada de muito elaborado, pois infelizmente, não acredito que  o poder politico vá dar créditos a nossa contribuição, e sobretudo porque acho que iniciativas deste tipo, deverão partir de estruturas organizadas da sociedade civil e serem executadas pelas mesmas, tendo o poder político como um parceiro e não como entidade para a sua execução.

Porém, nos últimos dias, após analisar algumas discussões no blogue de temas relacionados com a cultura maense, principalmente  a preservação da nossa língua, e sobretudo após o meu envolvimento no projecto "Rádio Voz di Djarmai Online" onde tem surgido um clima que tem propiciado viagens à minha infância e sobretudo um contacto com aspectos da nossa cultura que, infelizmente, vão desaparecendo aos poucos, falo por exemplo: de jogos e brincadeiras, expressões da nossa língua, alguns hábitos e costumes, utensílios e objectos, estórias, etc., resolvi escrever sobre uma ideia que há muito venho alimentando.

O grande objectivo que, inicialmente estava, por detrás desta ideia era a de documentar a história recente (século XX) maense, contada pelas pessoas que vivenciaram esta história - os próprios maenses. Todavia, o projecto poderia abranger outras áreas e até incorporar actividades que pudessem ocupar o tempo dos idosos.

A ideia final acabou por se converter num projecto de criação de uma Universidade Sénior. As Universidades Seniores surgiram na França, no inicio dos anos 70, como resposta sócio-educativas visando criar e dinamizar actividades sociais, recreativas, culturais e educacionais para a terceira idade. O objectivo é manter os seniores activos de forma a se sentirem úteis através da realização de várias actividades como acções de formação e informação, visitas de estudos e lazer, oficinas e worshops, blogues, revistas e jornais, grupos de música ou teatro, voluntariado, etc. Hoje existem milhares de Universidades Seniores ou Universidades da Terceira Idade em todo o mundo inseridas dentro de dois modelos: o francês em que são criadas pelas universidades tradicionais, tem professores remunerados e garantem uma certificação, seguindo um modelos mais formal; e o modelo inglês em que nascem no seio de organizações sem fins lucrativos, com professores voluntários e não garantem certificação, seguindo um modelo mais informal.

Dentro destes dois modelos, a minha ideia passaria por um modelo mais próximo do modelo inglês enquadrado dentro do contexto do objectivo principal. Assente na percepção que eu tenho das universidades como sendo um espaço de produção e partilha de conhecimento, proponho que o projecto da Universidade Sénior Maense (USM) seja um projecto virado para a documentação da história, da cultura, dos hábitos, dos costumes, das tradições maenses, não esquecendo, claro, a vertente formativa, informativa e de lazer dos estudantes.

Sendo assim, a USM teria três principais vertentes: formação dos idosos em áreas como a saúde e lazer, história e geografia mundial, economia, línguas estrangeiras, informática e novas tecnologias, etc.; actividades de lazer como excursões, bailes e convívios, actividades culturais e desportivas, intercâmbios, etc.; e a vertente onde os alunos podem produzir trabalhos baseados nas suas memórias e conhecimentos práticos, divididos em várias áreas, como por exemplo: Tradição oral (estórias, contos, cantares, dizeres, palavras e expressões,etc.), história (memórias de factos histórico que marcaram as suas vivências e a história da ilha), Música, Danças, gastronomia, e outras áreas relacionadas com as actividades historicamente importantes para Djarmai como agricultura, pecuária, pesca, caça, artesanato, extracção de sal,etc.

Depois a própria USM poderia, em parceria com outras entidades, criar espaços e meios de divulgação dos trabalhos finais como por exemplo: intercâmbios com escolas primárias e secundárias, actividades culturais e de lazer (convívios, workshops, exposições, feiras, peças teatrais, etc.), edição de livros de contos, edição de discos com cantares populares,etc.

É claro que este projecto implicaria a mobilização de recursos financeiros e humanos, bem como de espaços e equipamentos. Todavia, gostaria de frisar que não se pretende criar uma instituição de ensino formal super equipada. O que se pretende é criar um espaço onde "nos djents grand" poderão se reunir periodicamente, com as mínimas condições necessárias, para falar de "badje rantxe rantxe", para nos ensinar palavras como "tisnadje" ou "pentxentxe" e os seus significados, para falar do tempo em que "lagoa era lagoa", para nos ensinar a fazer "Kej di kabra" ou "Kuzkuz di Taliska Mandioka", para relembrar estórias como "Nhu Lelé" ou "Belmira", para nos falar de "Nha Dunda Lagoa" ou "Xepa Mamai", para nos ensinar a fazer "Binde" ou "Sintxe", para nos ensinar brincadeiras como "Pilorit", "Poi Anel", "Kalerinhu Kaleron" (dos seus tempos é claro), para nos ensinar "reza di spanta funad" ou "mo ku ta dad bruxa ku pedra" ou ainda cantares como "pardalim pardalim",etc.

Estas são algumas coisas que lembrei de momento mas certamente  não significam nada dentro daquilo que "nos djents grand" podem nos ensinar e sobretudo deixar documentados para não desaparecerem com o tempo. E é claro que, em troca, podemos ensinar a "nos djents grand" coisas do nosso tempo como por exemplo enviar um email ou mesmo jogar playstation, mas sobretudo proporcionar-lhes uma vida activa e valorizar os conhecimentos e sabedoria que adquiriram ao longo do tempo.

Esta é uma ideia que está a procura de parceiros para se transformar num projecto e partir em busca de recursos para seguir em frente.

Samir Agues da Cruz Silva

2 comentários:

  1. Uma iniciativa louvável e necessária, pois como escrevi num dos meus artigos é fundamental que uma ponte intelectual e emocional seja construída com o objectivo de unir diferentes gerações, e creio que essa “universidade” poderá servir como a tal ponte. Muitas vezes escrevi sobre a importância da preservação da nossa cultura e identidade como maienses, pois isso assinala o primeiro passo para a mudança da mentalidade, promoção de mais dinâmica em elevar a nossa ilha no patamar de desenvolvimento e adquirir mais respeito político em geral. No âmbito deste projecto, primeiramente precisamos compreender a pedagogia cultural e cultivar mais respeito e interesse pela tal. Este projecto é muito interessante e pode ser revolucionário para Djarmai, portanto podes contar 100% como o meu apoio, kalker kuza bom pa avançe di Ma n´sta disposta a djudá. Sempre força i contá sempre ku mi.
    Um abraç,
    Kaline

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  2. Samir,

    Lendo esta notícia(http://www.expressodasilhas.sapo.cv/pt/noticias/detail/id/16606), pode-se dizer que pelo menos um dos teus desejos já realizou neste 2010.

    Abraço

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