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sexta-feira, 3 de outubro de 2008

O MEU GRITO - I

Sou a ilha do Maio, a mais antiga ilha de Cabo verde, a mais bela, a mais meiga, simpática e acolhedor. Também sou conhecida por Djarmai.

Hoje acordei nostálgica e resolvi falar, resolvi gritar com a minha dor para que me oiçam.

Meu lamento é tal que não consigo conter com a minha mansidão.

O meu sofrimento é tal que faz com que sinto-me oprimida e sem forças.

Lamento a minha tristeza e solidão, sei que não mereço.

Lamento a ausência dos meus filhos,

Aqueles que vi nascer, aqueles que vi crescer,

Aqueles que me prometeram mundos e fundos na sua adolescência

E que pela ganância do poder me esqueceram, calando as suas vozes, quando mais precisei.

Já não sinto o cantar dos passarinhos nas minhas orelhas ao amanhecer,

Já não vejo os botes a chegarem do mar carregados de peixes,

Já não oiço aquele toque suave de violino para ninar-me a noite, em que todos dormem em paz.

Por favor, deixem-me falar. Tenho esse direito!

Agora já não posso dormir com as luzes apagadas. Caso contrário, serei assaltada.

Não sinto segura, não me sinto feliz, não me sinto “Mai di kel temp

Ku tud calmaria i di sorris na rost”.

Querem tirar o meu leito para amamentarem os outros filhos.

Esta não é a razão para falar? Para gritar? Para lamentar?

Sim, deixem-me falar para não explodir!

Estou sentada em cima do manto azul de orla branca, a brancura da minha pureza.

Querem transformar-me.

Porquê? Para quê? Para quem?

- Não sei ainda!

Chamaram-me de “nada”, pois essa vida que levo o “nada” nunca me serviu,

E o “tudo” que tenho querem tirar-me.

-A morabeza de que tanto falam. Isto tenho, sou a única.

Com toda a minha mansidão, genuinidade e simplicidade,

Vi meus filhos a morrerem nos meus braços porque não quiseram acudir-me

Vejo meus filhos penalizados por não terem como progredir os estudos.

Destroçaram do meu sensível coração.

Sou Djarmai, já passei por tanta coisa sem necessidade de as passar!

Sinto-me solitária e injustiçada por aqueles que acolhi e pelo organismo que me acolhe.

Sei que sou bela, sei que tenho muito para dar

Mas, não abusem. Abuso tem limites.

Sei também que muito me virão criticar pela minha ousadia de falar, de expor e de criticar.

- Acreditem, senti essa necessidade.

Sou a ilha do Maio, a mais doce das ilhas e querem que eu perca essa doçura.

- Fizeram com que eu experimentasse drogas,

- Fizeram com que eu aceitasse a incompetência,

- Que engravidasse na adolescência...

- Querem que eu fique parado no tempo.

- Que calasse a minha voz.

Só que agora resolvi erguer, mas com cuidado

Sei o que querem que eu seja

Sei que posso ser aquela que querem que eu seja, esse é o meu maior medo.

Por isso, suplico aos que me amam:

- Me ajudem e me protegem.

Quero ser a mãe legítima, a boa mãe que sempre fui.

Sou Djarmai, a mãe de todos maenses e de todos que se sintam como tal, desde que me amem e que respeitem.

Gritei e aliviei-me. Mas acreditem:

- Ainda tenho muito que gritar.



Edson Valdir M. Alves
evaldir_alves@hotmail.com

4 comentários:

  1. ...nm ka copnsigui ngatcha algum emoção na obi bu grit... k na fund e dimeu tb... e di tcheu fidj di kel terra. bu consigui da um tom poético a algum angustia k ta invadi nha alma sempre k nm ta pensa na nos mai. e bom sabé ma ess angustia dja sta ta ocupa espaç dimas e k nu ka sta consigui acalmal dent di nos. dja sta ta tardaba ess mudança, pelo mens na nos atitud perante mo k ots ta oiand e ta tratand... no entant, nm ta atcha ma nos discurse di mudança ka debé ser marcad pa um tom tcheu negativ... ess isolamente, di certeza, contribui pa nos forma special di ser. e nm atcha ma midjor mudança pa nos terra e kel ku ta pondera efeit k novidades k nu cre e nu ta tcha just pa noss ta bem tem na essencia di djarmai!!!

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  2. oh Edson, nunca n'le um coisa mas linda e triste na nha vida. Bu grit (ou grit di nos tud ki ta ama Maio), di um forma poética e ou mesmo tempo política captura a dinâmica do dilemma Maense. Nos Djarmai realment sta grita, mas es ka kre obil, portant nos ki tem ki ser si voz, nos di tem ki luta pa salva nos Djarmai

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  3. Havemos de malhar no governo todos
    os dias caso seja necessário ,até
    se lembrarem que o Maio também faz parte de Cabo - Verde . Não sou maiense mas sou caboverdiana de nascimento e as minhas raízes lá estão . O povo é humilde , manso,
    tranquilo ,até deveriam se orgulhar do povos desta ilha que desde sempre fora esquecida . Força maiense e continuem lutando
    para que a vossa (nossa ) terra será lembrada como filho legítimo
    e com todos os direitos .

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  4. É bom ouvir o grito dessa terra querida desse povo manso, chegou a hora de quebrar o selencio, chegou a hora de liberdade de expressão, uma Ilha tão perto do Capital do País e mais esquecida pelo Governo, precisamos fazer alguma coisa antes que seja tarde demais... viva Djarmai.

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