terça-feira, 23 de dezembro de 2008
"Pit na Baía, Sin na Igreja, Foguet na Rua... Boas Festas"
É natal, é tempo de festa, de paz, de solidariedade e de juntar a família para viver um dos momentos mais feliz e bonito do ano. É tempo também de, aqueles que tal como eu, se encontram longe da “casa” recordar, com muitas saudades, esta quadra vivida á moda de da terra natal.
No pequeno “Djarmaidimeu” mais precisamente no Barreiro, terra do Barreirense, de “Ceiada” e “Boka Lagoa”, de “Lagoa” e “Dja Padja”, o primeiro sinal do Natal era dado pelas rádios, nos finais de Novembro, quando começavam a passar repetidamente as músicas do álbum “Boas Festas” do saudoso Luís Morais.
Dai por diante se instalava o espírito natalício com muita cor, alegria e solidariedade.
O mês de Dezembro entra com a aldeia ao som de “Boas Festas” com todas as casa de portas e janelas abertas, volume das rádios ao máximo, e as “rabidantes”, chegadas da ilhas de Santiago, a colorir os passeios das ruas com os seus negócios, que vai desde roupas, brinquedos e até medicamentos.
Este clima contagiante do Natal ganhava mais vida, amor e calor com as ferias escolares, com as crianças a saírem á rua para brincarem durante todo o dia e com a chegada dos “Studant” da Praia. Ouvia-se a buzina dos poucos carros que existiam na aldeia e toda a gente saía á rua a gritar “Studant ia bem!!!”.
Mas a maior alegria estava reservada para á chegada dos emigrantes (a grande maioria vindos da Holanda). Mais uma vez ouviam-se as buzinas e toda a gente saía á rua mas desta vez para gritar “imigrant ia tchiga”. Com eles traziam, alem de muita alegria e “sodade”, muitas prendas e alguns enfeites. Nos dias seguintes as ruas ganham mais cor e vida com a renovação da pintura das casas dos emigrantes.
À meia-noite do dia 24 é a hora da tradicional ceia de Natal. Todos á mesa, desde dos mais velhos até os bebés, desde os filhos aos vizinhos, para num clima verdadeiramente familiar, saborearem o bolo, as pipocas, “salgadinhas”, “Litom assad na forn”, etc., e claro, vinho, muito vinho, cerveja e… grogue. Ricos ou pobres, todas as famílias preparavam a tradicional ceia de Natal.
E… chegou o dia 25 de Dezembro, finalmente chegou o Natal!!!!
Este dia era marcante para as crianças. Todas se dirigiam para o “Poudivalent” (Polivalente) para exibir e brincar com os seus brinquedos. É claro que havia sempre diferenças, uns, filhos de emigrantes tinham aqueles bonitos e grandes brinquedos que o “Papá” trouxe da Holanda, outros simplesmente não tinha nada. Mas apesar de haver os mais egoístas que troçavam daqueles que não tinham nada, havia sempre aqueles que, solidários, emprestava o seu “Brinquedo da Holanda” aos que não tinham.
Este espírito natalício e de festa continuava nos dias seguintes pois, ainda faltava o “An Nov” e, no Barreiro ainda havia a festa da Sagrada Família pelo meio.
Nos dias que se seguem ao Natal as atenções voltavam para a organização da festa “Fim d’An”. Desde os mais novos (sodad fim d’na na kaza padja!!) até os mais velhos. Havia pelo menos 3 festas de acordo com os escalões etários, cada qual com o seu peso e medida.
Na noite do “Fim d’an” total as crianças iam de porta em porta par “pidi boas festas”. A frase de ordem era: “Boas festas boas an, nem si pok pa poi na mom, pa ot an pode atxand ku vida ku saud, na paz ku susseg”. Um “dois y kinhenta” aparecia sempre.
Este clima de festa só acabava o regresso dos “Studant” á Praia, depois dos emigrantes á “Holanda” e finalmente das crianças á escola.
Hoje, no frio de Coimbra, lembro com muitas saudades a infância que gostaria de voltar a viver.
Hoje muitas coisas mudaram certamente mas, o espírito natalício, a clima de festa com as pessoas encaram esta quadra permanecem intactos. Sobretudo o calor humano é o qua mais faz falta a quem esta longe (principalmente com este frio!!!).
Esta é a historia que um dia vou contar ao meu filho. Aliás esta é a história que gostaria que os meus filhos vivessem também.
Para todos os Maenses um Santo Natal e Ano Novo cheio de paz, saúde e alegria. E para os Maenses que, tal como eu, estão longe de “Djarmai” faço votos que no próximo ano encontremos todos na “Djarmai” para revivermos este espírito natalício.
“Boas Festas y ke Deuz alkansand um na nov xei di alegria, ku vida ku saud, na paz ku susseg”.
Samir Agues da Cruz Silva
(na frio di) Coimbra
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Pela sua descrição era realmente assim todos os anos na época natalícia . Nasci na cidade da Praia e também aí era mais ou menos como descreve as suas memórias de infância que um dia gostaria de transmitir esse espírito natalício aos seus futuros filhos . Admiro as pessoas do Maio porque são pacíficas , o meu padrinho Ivo Germano (já falecido )era marido da D. Bebé , senhora que muito estimo . Um dia se Deus quiser quando fôr a Cabo - Verde hei- de ir conhecer a ilha de gente maravilhosa . Gostei da expressão "Pit na Baía , Sin na igreja , Foguet na Lua ... Boas Festas " . Para todos os alunos que se encontram a estudar fora do seio familiar mas que continuem recordando o espírito natalício caboverdiano , desejo um FELIZ NATAL e próspero ANO NOVO sempre com esperança em dias melhores .
ResponderEliminarO frio de Coimbra brevemente fará parte do passado e que brevemente possa estar no quentinho da sua terra trabalhando com afinco para o seu povo . Adorei . Muitas felicidades .