
É natal, é tempo de festa, de paz, de solidariedade e de juntar a família para viver um dos momentos mais feliz e bonito do ano. É tempo também de, aqueles que tal como eu, se encontram longe da “casa” recordar, com muitas saudades, esta quadra vivida á moda de da terra natal.
No pequeno “Djarmaidimeu” mais precisamente no Barreiro, terra do Barreirense, de “Ceiada” e “Boka Lagoa”, de “Lagoa” e “Dja Padja”, o primeiro sinal do Natal era dado pelas rádios, nos finais de Novembro, quando começavam a passar repetidamente as músicas do álbum “Boas Festas” do saudoso Luís Morais.
Dai por diante se instalava o espírito natalício com muita cor, alegria e solidariedade.
O mês de Dezembro entra com a aldeia ao som de “Boas Festas” com todas as casa de portas e janelas abertas, volume das rádios ao máximo, e as “rabidantes”, chegadas da ilhas de Santiago, a colorir os passeios das ruas com os seus negócios, que vai desde roupas, brinquedos e até medicamentos.
Este clima contagiante do Natal ganhava mais vida, amor e calor com as ferias escolares, com as crianças a saírem á rua para brincarem durante todo o dia e com a chegada dos “Studant” da Praia. Ouvia-se a buzina dos poucos carros que existiam na aldeia e toda a gente saía á rua a gritar “Studant ia bem!!!”.
Mas a maior alegria estava reservada para á chegada dos emigrantes (a grande maioria vindos da Holanda). Mais uma vez ouviam-se as buzinas e toda a gente saía á rua mas desta vez para gritar “imigrant ia tchiga”. Com eles traziam, alem de muita alegria e “sodade”, muitas prendas e alguns enfeites. Nos dias seguintes as ruas ganham mais cor e vida com a renovação da pintura das casas dos emigrantes.
À meia-noite do dia 24 é a hora da tradicional ceia de Natal. Todos á mesa, desde dos mais velhos até os bebés, desde os filhos aos vizinhos, para num clima verdadeiramente familiar, saborearem o bolo, as pipocas, “salgadinhas”, “Litom assad na forn”, etc., e claro, vinho, muito vinho, cerveja e… grogue. Ricos ou pobres, todas as famílias preparavam a tradicional ceia de Natal.
E… chegou o dia 25 de Dezembro, finalmente chegou o Natal!!!!
Este dia era marcante para as crianças. Todas se dirigiam para o “Poudivalent” (Polivalente) para exibir e brincar com os seus brinquedos. É claro que havia sempre diferenças, uns, filhos de emigrantes tinham aqueles bonitos e grandes brinquedos que o “Papá” trouxe da Holanda, outros simplesmente não tinha nada. Mas apesar de haver os mais egoístas que troçavam daqueles que não tinham nada, havia sempre aqueles que, solidários, emprestava o seu “Brinquedo da Holanda” aos que não tinham.
Este espírito natalício e de festa continuava nos dias seguintes pois, ainda faltava o “An Nov” e, no Barreiro ainda havia a festa da Sagrada Família pelo meio.
Nos dias que se seguem ao Natal as atenções voltavam para a organização da festa “Fim d’An”. Desde os mais novos (sodad fim d’na na kaza padja!!) até os mais velhos. Havia pelo menos 3 festas de acordo com os escalões etários, cada qual com o seu peso e medida.
Na noite do “Fim d’an” total as crianças iam de porta em porta par “pidi boas festas”. A frase de ordem era: “Boas festas boas an, nem si pok pa poi na mom, pa ot an pode atxand ku vida ku saud, na paz ku susseg”. Um “dois y kinhenta” aparecia sempre.
Este clima de festa só acabava o regresso dos “Studant” á Praia, depois dos emigrantes á “Holanda” e finalmente das crianças á escola.
Hoje, no frio de Coimbra, lembro com muitas saudades a infância que gostaria de voltar a viver.
Hoje muitas coisas mudaram certamente mas, o espírito natalício, a clima de festa com as pessoas encaram esta quadra permanecem intactos. Sobretudo o calor humano é o qua mais faz falta a quem esta longe (principalmente com este frio!!!).
Esta é a historia que um dia vou contar ao meu filho. Aliás esta é a história que gostaria que os meus filhos vivessem também.
Para todos os Maenses um Santo Natal e Ano Novo cheio de paz, saúde e alegria. E para os Maenses que, tal como eu, estão longe de “Djarmai” faço votos que no próximo ano encontremos todos na “Djarmai” para revivermos este espírito natalício.
“Boas Festas y ke Deuz alkansand um na nov xei di alegria, ku vida ku saud, na paz ku susseg”.
Samir Agues da Cruz Silva
(na frio di) Coimbra
Pela sua descrição era realmente assim todos os anos na época natalícia . Nasci na cidade da Praia e também aí era mais ou menos como descreve as suas memórias de infância que um dia gostaria de transmitir esse espírito natalício aos seus futuros filhos . Admiro as pessoas do Maio porque são pacíficas , o meu padrinho Ivo Germano (já falecido )era marido da D. Bebé , senhora que muito estimo . Um dia se Deus quiser quando fôr a Cabo - Verde hei- de ir conhecer a ilha de gente maravilhosa . Gostei da expressão "Pit na Baía , Sin na igreja , Foguet na Lua ... Boas Festas " . Para todos os alunos que se encontram a estudar fora do seio familiar mas que continuem recordando o espírito natalício caboverdiano , desejo um FELIZ NATAL e próspero ANO NOVO sempre com esperança em dias melhores .
ResponderEliminarO frio de Coimbra brevemente fará parte do passado e que brevemente possa estar no quentinho da sua terra trabalhando com afinco para o seu povo . Adorei . Muitas felicidades .