A Promoção Cultural no Maio

Segundo o diagnóstico territorial, social e económico publicado pelo Gabinete Municipal de Desenvolvimento Local no Maio, “…não temos assistido uma verdadeira política cultural na ilha… não se reconhece os verdadeiros agentes culturais da ilha. Não obstante, existirem vários talentos maienses tanto residente na ilha ou noutras ilhas como na diáspora, ainda não se fez absolutamente nada para o seu engajamento em prol da cultura e do desenvolvimento da ilha” (GMDL-Diagnóstico, 2005, Pg. 19). Essa afirmação sem dúvida é polémica, mas ao mesmo tempo apenas reforça a minha suposição a cerca dessa questão. A cultura é um componente fundamental não só no desenvolvimento regional, mas também na criação duma identidade social, cujo efeito, é chave na consciencialização e mobilização contra os factores tirânicos e destrutivos na nossa sociedade. Sem cultura somos apenas corpos flutuantes, ocos e sem verdadeira essência.

A história é a verdadeira protagonista cultural, pois além de relatar eventos passados, muitas vezes ela determine a organização socio-económica dum estado/povo. Nos anos após a independência se relatou um fenómeno importante em que a história de Cabo Verde foi, e continua a ser, transmitida da boca e coração do povo para livros, cassetes, publicações académicas, vídeos etc. Contudo essa aplaudível iniciativa exercida pelos vários institutos e indivíduos, e de realçar que como sempre Maio parece ficar de fora. Em ler e pesquisar a história de Cabo Verde, Maio parece ser a ilha com menos dados históricos registados, porque será isso? O poder colonial na ilha não documentou factos históricos? Foram perdidas? Não houve uma pesquisa/documentação profunda na ilha nos tempos contemporâneos pelos próprios Maienses? Penso que a última seja a mais exacta, pois nas outras ilhas as suas histórias foram pesquisadas e publicadas pelos próprios compatriotas.

No caso do Maio, como era de prever, foi abandonada pelos seus quadros formados, onde uns somente abusaram da simplicidade do seu povo, outros usaram-na apenas como um lugar de férias, ou simplesmente taparam os ouvidos quando ela gritou por eles. Portanto a história Maiense cada dia desaparece com a antiga geração, e embora ouvi que um patrício está à /quer dedicar-se a pesquisa da história da nossa ilha, isso deve ser um esforço comunitário onde todos devíamos preocupar em saber a história do Maio, pois creio que as respostas pelas muitas perguntas sobre a situação actual da ilha podem ser descobertas através da exploração histórica.

Além da história, a ilha precisa cultivar uma política cultural, pois a cultura é indispensável para o desenvolvimento de qualquer sociedade. Além dos grupos de serenata que de vez em quando ninam as noites, não vejo outras formas de promoção cultural. Sei que existem grupos de dança, teatro, mas esses não são agentes visíveis na sociedade por falta de apoios apropriados, entretanto fazendo com que as suas contribuições culturais sejam bastante limitadas. A escola de música, através da Casa da Juventude, está em processo mas é sempre a mesma cantiga, falta de participação. A arte é quase inexistente nas escolas, nunca ouvi falar de nenhum activo artista plástico Maiense, a biblioteca é um caso lamentável etc.

Muitos não vêem a lógica em investir na promoção cultural enquanto a ilha tem outros problemas deduzidas como “mais graves”, mas é de salientar que a promoção cultural para além de estimular uma revolução intelectual e a diminuição da mentalidade arcaica, ela pode ajudar à combater problemas como o desemprego, pois essa estimula a criatividade e isso pode significar pessoas trabalhado como artistas, abertura duma “Casa da Cultura”, museus etc, que são todos fontes de emprego. A promoção cultural pode diminuir a taxa de criminalidade/delinquência porque os jovens terão mais opções de lazer, ela pode ter o poder de aumentar o número de quadro alto na ilha, e possivelmente até diminuir a percentagem dos casos de gravidez precoce e de tóxico-dependência, pois a cultura é uma força extraordinária.

Ademais, Maio é um lugar cheio de patrimónios culturais. Da igreja Católica, o farol, até o barco enterrado na Bixirotcha etc, esses lugares/objectos contam histórias sobre o povoamento, desenvolvimento, e a política da ilha que devem ser preservadas e passadas para as gerações vindouras. Entretanto, os patrimónios fazem parte não só da história, mas também da identidade Maiense, portanto precisamos desenvolver mais respeito e interesse por mesmos.

O governo e a comunidade Maiense precisam trabalhar mais na preservação desses patrimónios, e isso pode ser feito através da documentação das suas histórias, campanhas de sensibilização sobre as suas importância, e criação de um espaço de conservação. A promoção geral da cultura na ilha pode ter um impacto positivo na mentalidade e no bem estar do povo Maiense, e também pode ser um catalisador na promoção da iniciativa social, pois um povo sem cultura é um povo sem identidade, e um povo sem identidade é um povo sem voz.

Hélida Kaline Costa