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segunda-feira, 31 de maio de 2010

14zinhas: Pedofilia e outros crimes praticados e encapotados pelas autoridades e pela sociedade maense


Numa altura de reflexão e balanço de tudo aquilo que foi debatido durante o II Encontro de Estudantes Maenses em Portugal, resolvi escrever sobre um temas que não foi abordado no encontro e que, na minha opinião, constitui um dos piores males que afligem a nossa ilha: O fenómeno “Katorzinha”. Não pretendo com este texto dar lições de moral a ninguém, até porque não faz parte da minha forma de estar, pretendo simplesmente chamar a atenção para este fenómeno.
O fenómeno Katorzinha (ou 14zinha), é na minha opinião, um dos piores males que afecta a nossa ilha e um reflexo de perda de valores que hoje se regista na nossa sociedade. Cabo Verde no geral e Maio em particular, sempre foi terra de “kont nob”. Em Djarmai tudo é motivo de chacota, desde as coisas mais banais até coisas muito sérias. Tudo tem que ter um nome e as pessoas levam sempre no gozo.
Mas o fenómeno 14zinha ultrapassou, na minha opinião, todos os limites de brincadeiras. 14zinha é muito mais do que um simples kont nob ou uma simples brincadeira. Estamos a falar de adolescentes de 12, 13, 14, 15 ou 16 anos que, simplesmente, “estão na moda” porque o povo assim o quer. E “estão na moda” para tudo. Expressões que mais se ouvem em Djarmai nos dias de hoje são do tipo: Gosili y 14zinhas ki sta manda; Badje 14zinha ki sta da; Si bu ka tem 14zinha bu ka nada; etc., etc. Uma estranha moda que tem servido, inclusive, para encobrir crimes muito graves.
Faz-me muita confusão ouvir falar de “Badje 14zinha”. Não seria estranho se fossem bailes organizados e frequentados exclusivamente por adolescentes, num espaço, horário e ambiente apropriado. Mas não. São bailes para adultos, mas onde as estrelas são adolescentes dos 12, 13, 14, 15 e 16 anos, as “famosas 14zinhas”. Em que país estamos?? Onde estão as autoridades??
Ora, então vejamos: Até onde sei, a lei proíbe a entrada e permanência de menores de 18 anos nesses locais onde são realizados esses tais  “badje 14zinha”. Onde estão as autoridades?? Não há fiscalização??Onde estavam (estão) os pais?? E as autoridades?? Mas pior do que isto, na minha opinião, é não haver resposta convincente para perguntas como: Quem autorizou estas crianças a irem para “badje 14zinha”? Foram sem autorização??
Mas o pior crime tem outro nome: Pedofilia. Sim PEDOFILIA.
É absolutamente assustador ver que em Djarmai já é, praticamente, considerado normal um adulto se envolver sexualmente com as “famosas 14zinhas”. Dito por outras palavras: a pedofilia na ilha do Maio é absolutamente tolerável desde que seja praticada com 14zinhas. Exagero meu?! Não, realidade.
Senão vejamos: Em Djarmai todos tem que ter uma 14zinha desde os sub a homens de idade desde desempregado aos professores, desde        os delinquentes aos polícias. Todos os maenses sabem daquilo que estou a falar, aliás a maioria sabe até melhor do que eu. Não vale a pena citar nomes mas eu não tenho problemas nenhum em concretizar estas minhas afirmações em sede própria caso for necessário. Pedofilia é crime e muito grave, quem comete crimes é criminoso, deve responder e ser punido pelos seus actos e, Djarmai continua a tolerar crimes que estão a devastar a nossa sociedade.
Professores que envolvem com alunos, na sua maioria menores, existem á muito e eu até pensava que coisa destas já não acontecia. Ingenuidade minha. Há bem pouco tempo ouvi relato do caso de um professor da Escola Secundária do Maio que “namorava” (ou ainda namora?!) com uma aluna e ainda lhe batia em público! Novidade?! Infelizmente não. Djarmai inteiro sabe quem é o tal (ou os tais) professor (es) e a tal (as tais) aluna (s). Onde estão os pais da adolescente? Onde estão as autoridades? Onde está a direcção do Liceu? Onde está o povo maenses?
Polícias (sim Polícias) que envolvem com menores na ilha do Maio também não são novidades para nenhum maense. Aliás, de entre os vários casos houve que me chocou mais que é o caso de uma adolescente engravidada por um agente que depois “trad di kaza”, foi maltratada e como se não bastasse quando a esposa do tal agente apareceu a adolescente foi escorraçada e voltou de novo para casa dos pais. Mais uma vez pergunto: Onde estavam os pais? Onde estava a autoridade? Onde estava o chefe deste agente? Onde estavam os maenses?
Sempre que faço estas perguntas algumas pessoas respondem: “Mai ku Pai ka tem nada faze pamo minis di gosi ka sta obi”. Para onde caminhamos, minha gente? Para onde caminha a nossa sociedade? Pior é que, ao ponto em que chegamos, as coisas só podem piorar. Temos adolescentes que engravidam cada vez mais cedo, sem as mínimas condições nem económicas nem psicológicas para criar os filhos e caímos num ciclo.  É urgente fazer algo.
Palestras, campanhas de sensibilização, actividades de ocupação dos tempos livre, etc. tudo isto é necessário mas é preciso ir mais longe. É preciso tomar posições mais radicais. Se uma adolescente de 15 anos está até altas horas da noite num baile, quem são os responsáveis? Os Pais, os responsáveis do baile, os agentes da autoridade e a população em geral. E eu penso que o exemplo deve vir de cima.
Eu proponho a realização de uma campanha de sensibilização, controle e fiscalização em colaboração com os agentes da autoridade, poder local, pais, instituições religiosas, ONGs, gerentes e proprietários de estabelecimentos de diversão. Proponho fiscalização rigorosa junto dos locais de diversão e outros locais interditos a menores de 18 anos. Em Djarmai toda gente conhece toda a gente e não seria muito difícil realizar acções desta natureza.
As placas proibida entrada e/ou permanência de menores de 18 anos não estão lá só para enfeitar as paredes. Quem não cumpre as regras deve ser punido. Além do mais, os pais devem ser levados a assumir as suas responsabilidades. Se a fiscalização apanhar um(a) menor num local inapropriado deve dirigir para a casa dos pais ou encarregados do(a) adolescente e adverti-los.
Uma campanha desse tipo não resolveria toda a situação mas teria, sem dúvidas nenhuma, um grande impacto na sociedade e melhoraria, certamente, a situação face ao que assistimos hoje.
Mas há uma outra medida que tem que ser adoptada. Temos que acabar com a impunidade que existe em Djarmai face a crimes de abuso sexual contra menores e de violência no namoro. Envergonha-me enquanto homem saber que é considerado um acto normal bater nas mulheres, sejam elas namoradas, esposas ou amantes, em Djarmai. Qualquer incivilizado pode faze-lo em público e sai impune.
Há crimes que são de domínio público, qualquer cidadão pode denunciar. A nossa sociedade não pode continuar a tolerar comportamentos selvagens dalguns que se acham donos dos outros. Mas além de deveres legais existem deveres morais que são constantemente atropelados em Djarmai e ninguém faz nada. Um professor tem um código de conduta que ele tem que seguir, pelas responsabilidades que assume na sociedade, o mesmo se aplica aos agentes policiais e outros profissionais. Se não respeitam devem ser punidos e os seus superiores não podem compactuar com violações destas regras. A sociedade não pode ficar indiferente a estes atropelos.

Samir Agues da Cruz Silva
samirsilva@vozdidjarmai.com

4 comentários:

  1. antes de mais quero dar-te os parabéns samir, pois o artigo está fantástico. eu acho que já estava na hora de alguém denunciar o que estava (e ainda está) a acontecer na nossa ilha.
    Espero que este artigo sirva de alerta a comunidade maense e as autoridades locais.
    Boa sorte e continuação de um bom trabalho.

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  2. Muitos parabéns e muito obrigada!
    É bom que se tome medidas para acabar com esse disparate alias com essa falta de respeito.
    Isso é violação dos direitos humanos e de todas as normas e valores da sociedade.
    Bom trabalho e espero que tudo o que acabei de ler sirva como um «exame de consciência» para algumas pessoas que vão ler este artigo e que se calhar já «serviram» desse crime.
    Loide Agues

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  3. Xaxa adorei o artigo e até axo que o devias mandar p algum jornal, para ser lido por mais pessoas...Este é um assunto realmente importante, que tem implicações a todos os níveis e não só a nível dos valores, da moral,ou da justiça, mas tb em termos de educação (que futuro para as crianças que estão a ser criadas numa sociedade com esta mentalidade?...) e de saúde pública (não só por causa das gravidezes "fora de época" mas também, e relembrando o artigo da tixa sobre o hiv, pelas DST's que passam de homens mais velhos e experientes para miúdas que nem sabem como se usa uma camisinha) Bjs e força nisso!

    Constança Dias

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  4. Antes demais parabens pela pertenencia do seu artigo e a sua sensibilidade pela causa maiense.


    É do conhecimento geral o escândalo da pedofilia do Maio no final da década de noventa. Cinquenta e quatro crianças e adolescentes foram violadas. Nessa altura, a pedofilia não era considerada crime público tão pouco fazia parte do nosso ordenamento jurídico. Conjuntura difícil para qualquer cidadão que almeja accionar a denúncia dum crime de tal envergadura, fazendo com que as autoridades assumissem suas responsabilidades a ponto de prender em o criminoso. Pior ainda foi a atitude dos pais das vítimas. Com aquela brandura de espírito, que sempre caracterizou a nossa gente do Maio, muitos, ao verem os seus filhos serem chamados a declarar no tribunal, instigaram-nos a não depor “contra aquele coitado”, dizendo coisas como essa: “se vos perguntarem quem foi que vos rompeu a vossa virgindade dir – lhes-ao que foram os vossos namorados”. Por fim, das 54 vítimas o criminoso só foi condenado apenas por apenas 08.
    Desculpe – me utilizar esta expressão usual da nossa ilha, “Samir xam na nha cabe”

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