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segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

ORLANDICES DE STA. CRUZ

Ouvi, pela comunicação social, excertos das declarações do esdrúxulo presidente da Câmara Municipal de Sta. Cruz, Orlando Sanches, proferidas à saída da audiência que lhe foi concedida pelo senhor Presidente da República, com o propósito de prestar esclarecimentos à volta do polémico projecto Cimenteira de Sta. Cruz.
Entre outros disparates a que já nos habituou, destaco as suas desajeitadas e incongruentes justificações para a escolha de Sta. Cruz, em detrimento do Maio, para a instalação da indústria. De notar que as anteriores justificações já foram descartadas e substituídas por outras, tão ou mais estapafúrdias que as primeiras! Dessas, pelos vistos, apenas se mantém a razão da maior dimensão do mercado de consumo santiaguense. Ou seja, para a determinação da localização de uma indústria extractiva, o escoamento de produto pesa mais do que o abastecimento de matéria-prima! É caso para se perguntar se existe em alguma parte do mundo alguma fábrica de cimento fora do jazigo de calcário?! Orlandices!
Mas vejamos as novidades do senhor Orlando:
Segundo o causídico, foram feitos estudos em que se consideraram várias hipóteses de localização da fábrica, nomeadamente Santo Antão, S. Vicente, Maio e, claro, Sta. Cruz. A possibilidade de exportação para os países da CEDEAO também pesou na escolha do local. Ainda segundo o mesmo, a dimensão da oferta de mão-de-obra terá sido um factor determinante na escolha, chegando mesmo a afirmar que o Maio, devido ao número reduzido da população, nunca poderia sediar uma indústria dessa natureza!
Quanto aos estudos referidos para a determinação do local de instalação da fábrica, aposto em como o senhor Orlando estará a inventar, a atirar para o ar! Em existindo, seria caso para se indagar, porquê aquelas ilhas e não outras?! Porque não S. Nicolau também?! Na ilha de Santiago, porque não o Concelho da Praia ou Sta. Catarina também?!
Com que então Sta. Cruz levaria vantagem quanto à possibilidade de exportação para os países da CEDEAO, sabendo que o Maio fica a menos milhas de distância do continente africano?! Ou será por causa do porto que Sta. Cruz não tem?! Ou, ainda, pelo facto de o porto do Maio não servir para embarcar anualmente 300 mil toneladas de sacos de cimento (produto), quando serviria para embarcar mais de 400 mil toneladas de pedras de cimento (matéria-prima)?!
A questão de a mão-de-obra local do Maio ser reduzida, não é menos disparatada! Com esse argumento seria impensável o desenvolvimento turístico na Boavista que hoje alberga mais santiaguenses do que os naturais da ilha. Se Boavista pode receber mão-de-obra santiaguense, porque não Maio, ilha mais próxima de Santiago?!
Como se pode ver, não se encontra uma única razão de racionalidade económica ou social para a escolha de Sta. Cruz em detrimento do Maio. O projecto do senhor Orlando Sanches só pode ter outras razões, aquelas que se não confessam! Um projecto estranho, não só pela sua irracionalidade económica como também pela forma como surgiu e ainda pelo modo brejeiro como tem sido apresentado e cozinhado!
Devo relembrar aqui que o projecto Cimenteira de Sta. Cruz surgiu quando era Ministro da Economia o senhor Avelino Bonifácio, por sinal natural de Sta. Cruz e irmão de Orlando Sanches. Antes disso ninguém tinha dado conta de potenciais investidores chineses em Cabo Verde a perscrutar a possibilidade de produção de cimento! Fosse só por isso, ainda assim se justificaria a estranheza de muita gente relativamente a esse projecto.
Mas há muitas mais esquisitices no projecto de Orlando Sanches! Vejamos algumas:
Inicialmente o projecto era aflorado como sendo de interesse público e apadrinhado pelo Governo, mas agora apresentado como de iniciativa de investidores privados chineses que nunca deram a cara;
O Governo também não dá a cara, não fala sobre o projecto, nem mesmo nos períodos eleitorais, deixando tudo nos cuspos do causídico Orlando Sanches. E quando é interpelado, esquiva-se por detrás do facto de se tratar de um projecto privado, como se já não tivesse deliberado no sentido da participação do Estado num projecto de indústria extractiva, pesada e suja, com considerável impacto económico e ambiental!
E ao dizerem-nos que se trata de um projecto privado, julgam poder convencer-nos da viabilidade económica do mesmo. O projecto pode até ser racional, mas para interesses particulares dos promotores chineses e de padrinhos cabo-verdianos. Nunca para Cabo Verde! A propósito de interesses privados chineses, chamaria a atenção para o artigo “Cimenteira em Pedra Badejo – Um projecto complicado” inserto no jornal Expresso da Ilhas na sua edição de 23/02/2005, em que se dava conta de que o principal parceiro, para além de ser um operador marginal nos negócios do cimento, é o fornecedor (vendedor) dos equipamentos. Para quem tenha a possibilidade de fazer um grande negócio com a venda de equipamentos e quando os riscos se transferem totalmente para o Estado de Cabo Verde, que lhe importa a localização da fábrica?
Quanto aos padrinhos cabo-verdianos, não deve ser por acaso que dirigentes tambarinas de Santiago Norte, colocados em áreas afins no Governo e na Administração Pública, vão sorrateiramente trabalhando no assunto. Exemplo de servicinho é o estudo de impacte ambiental mandado publicar pela Direcção Geral do Ambiente em Outubro do ano passado e colocado para consulta pública na D.G.A. e em Sta. Cruz (Câmara Municipal e Delegação do Ministério do Ambiente). No Maio, em nenhum local, até porque o referido estudo ignorou completamente a ilha e os efeitos da extracção e da movimentação das 490 mil toneladas de matéria-prima por ano!
Outra jogada estranha é o facto de se ignorar deliberadamente a Sociedade de Desenvolvimento Turístico da Boavista e Maio, quando, por lei, teria obrigatoriamente de se pronunciar sobre o projecto!
Felizmente o aberrante projecto de Orlando Sanches não parece com pernas para se concretizar. Sinal disso é a última novidade concernente à possibilidade de oferta de outros projectos para o Maio, que não têm nada a ver com a indústria cimenteira! Ou seja, rebuçados para os maienses, a ver se calam! Que ofensa à dignidade do povo do Maio, Sr. Orlando!
Para terminar, uma questão: seria possível instalar a fábrica de cimento em Sta. Cruz se o jazigo de calcário se localizasse em Sta. Catarina?
E um conselho: parem de ofender o povo do Maio!

ADALBERTO SILVA

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