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terça-feira, 17 de março de 2009

Diálogo e Compatriotismo


Em pensar na trágica notícia da morte do Alcides Santos (Xidau), comecei a refletir sobre o estado da identidade Maense à volta do campatriotismo. Sem dúvida que das tragédias muitas vezes nasce um temporário clima de união e fraternidade, mas esses princípios devem ser um estado permanente na nossa sociedade. Já foi “eternalizado” através da arte musical que nós Maenses somos, “pove di sentiment, d’coração abert…. ki ka conxé nenhum maldade” (Adalberto Silva “Betú”), mas será que isso continua a ser verdade? Ou talvés ficará na história como apenas uma fantasia num músico inspirado?

Dos tempos de criança até agora, tenho observado uma transformação radical no comportamento social em Maio, agora existe mais divisões de que nunca. Primeiramente, a divisão geracional é bastante alarmante e problemático, pois como a minha avó sempre diz “ruspet gossi ka tem mas”. Embora é importante que a nova geração defina a sua própria identidade, existe muito que podemos aprender dos mentores mais velhos, pois no percurso da vida e desenvolvimento pessoal não há nada mais constructivo e confortador de que ouvir a voz da experiência e deles receber apoio espiritual. Entretanto, é fundamental que uma ponte intelectual e emocional seja construída com o objectivo de unir diferentes gerações.

A divisão não é somente em termos de gerações, pois creio que a divisão política Maense é muito mais destrutivo à sociedade. No Maio é sempre “MPD pa li, PAICV pa lá”, e o que aconteçe com a nossa identidade patriota? Será que agora pessoas são do PAICV/MPD antes de serem Maenses? Como o José Maria (Paixão) correctamente mencionou no seu artigo mais recente, o tempo das campanhas às eleições no Maio é um período de muita guerra e malícia. Pessoas são sempre víctimas de insultos que em facto não tem nada a ver com política. Não existe diálogo produtivo e respeitável considerando os problemas do Maio, e muito menos ainda a cerca de soluções para os vários problemas afetando a ilha. Diálogo é um meio essencial para o desenvolvimento social, entretanto, precisamos adoptar uma cultura de comunicação aberta e respeito as diferentes ideologias, tanto políticas como pessoais.

O escritor Brasileiro Paulo Freire, no seu trabalho intelectual mais famoso, e na minha opinião, brilhante, Pedagogia do Oprimido, escreveu que “a opressão é um problema crônico social, onde os que são oprimidos terminam por aceitar o que lhes é imposto…devido à falta de conscientização”. O povo Maense é sem dúvida oprimido e marginalizado politicamente pelos ambos partidos políticos, mas mesmo assim ainda não existe aquela “conscientização” referida pelo Freire, mesmo assim a nossa identidade política parece prevalecer sobre a nossa identidade patriota. Na pedagogia escrita pelo Freire, ele sugere à educação escolar dos adultos analfabetos como um meio de conscientização. No caso do Maio, creio que o diálogo, a união e o compatriotismo são fatores chave em terminar com a injustiça, adquirir uma voz na plataforma política nacional, e romper barreiras burocráticas ao desenvolvimento. Como o meu grande amigo Eddy Borges disse na canção “Zona Maio”, “unido si nu luta nu ta alcança victória, ma si nu continua assim dividido, resultado é DERROTADO”. Por isso Djarmai, corda, djunta mon e luta.


Comprimentos a todos,

Hélida Kaline Costa

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